34 – Calculadoras eletrônicas, uma revolução

As calculadoras eletrônicas, no início dos anos “70”, efetivaram um grande avanço nos cálculos que engenheiros e outros profissionais, que utilizavam a matemática,  faziam na época. Inicialmente de mesa, logo mais de bolso, essas máquinas substituíram completamente as réguas de cálculo, presentes em diversas profissões por mais de 3 séculos.  As operações básicas já eram realizadas por máquinas mecânicas de mesa, manuais ou elétricas, mas os cálculos mais complexos elas ainda não resolviam.

Na Escola Politécnica da USP, em 1967, no último ano de Engenharia Naval, havia uma grande disputa entre os alunos para utilizarem as poucas máquinas de calcular disponíveis. A elaboração de um “plano de linhas” (*), desenho muito grande que define a forma do navio, havia a necessidade de mesas adequadas, bem grandes, na própria escola, e cálculos de precisão eram necessários. As réguas de cálculo não eram suficientes para a precisão desejada.

(*) Plano de linhas : é a representação do casco do navio em cortes transversais, longitudinais e horizontais. Será assunto de uma futura postagem.

Lembro, perfeitamente, que o navio que eu tinha que desenhar era um petroleiro de 595 pés (porque não 600 pés?) de comprimento, na escala 1:96 (porque não 1:100?), correspondendo a um desenho de quase 2,5 metros. O “problema” estava montado!

  • Para usar as medidas em “pés” tinha que converter “pés em polegadas”, isto é, multiplicar as medidas do comprimento, boca (largura) e pontal (altura) por 12 e utilizar uma régua graduada em polegadas, que era escassa para a quantidade de alunos. Essas conversões não eram realizadas apenas uma vez porque os cortes eram espaçados em 10 a 20 vezes ao longo das 3 medidas.
  • Para complicar um pouco mais a polegada não é divida em 10 partes, mas em 16 ou 32 partes (**). Por exemplo:   12″ 3/16  = 12,1875 polegadas.
  • A escala a ser usada era 1:96 porque 96 é divisível por 12, 16 e 32.
  • Uma alternativa era utilizar uma régua métrica, mas implicaria em fazer uma série de contas várias vezes (***).

Figura 01 – Uma polegada com 16 divisões

(**) Dividindo a polegada em 16 partes a menor unidade seria maior que 1 mm. Para uma precisão maior deveríamos dividir a polegada em 32 partes!

(***) 1 pol. =  25,4 mm           1/16 pol. = 1,5875 mm                    1/32 pol. = 0,7938 mm

Terminada a fase escolar o meu primeiro emprego foi num escritório de engenharia naval e as condições de trabalho eram muito melhores que as da escola. As medidas utilizadas eram no sistema métrico e havia disponibilidade de réguas e máquinas de calcular mecânicas e também elétricas, mas somente para as 4 operações. Para outras operações a régua de cálculo continuava a ser usada. O que mais me chamou a atenção é que o dono do escritório possuía uma máquina mecânica portátil, um modelo “Curta”, muito prática.

Figura 02 – Calculadora mecânica e portátil “Curta”

Nos 2 primeiros anos de profissão (1968 e 1969) não tive necessidade de cálculos complicados. Em 1972 comprei uma máquina de calcular mecânica, uma Facit CI-13, que ainda possuo em excelente estado de conservação e funcionamento. Detalhe: peso = 6,3 kg!

Figura 03 – Foto obtida na Internet

Figura 04 – Foto da CI-13

Para adição bastava digitar uma parcela e girar a manivela (1 vez). Depois digitava a segunda parcela e mais um giro e assim sucessivamente. O número de parcelas aparecia na segunda janela e o resultado na terceira.

Para subtração o processo era o mesmo mas a manivela era acionada num sentido de rotação oposto. Digitava-se o número maior, girava-se a manivela e depois o número menor, girando a manivela no sentido contrário para efetuar a subtração.

Para multiplicação eram digitados os números de uma parcela, que eram posicionados para a direita ou esquerda pelas teclas do teclado. Para introduzir a outra parcela a manivela lateral era girada um determinado número de vezes, até atingir um dos números da parcela e depois, com as setas do teclado, novamente a manivela era acionada para introduzir os outros números. As parcelas apareciam em duas janelas e o resultado na terceira janela.

Para divisões o processo era invertido, isto é, colocava-se a parcela a dividir e a manivela era acionada em sentido contrário até fazer um sinal (ruído), que indicava a hora de movimentar, com as setas, para continuar a operação.

O site abaixo demonstra como operar a máquina Facit- CI-13

No exemplo da próxima figura os números 14523 foram digitados e depois a manivela foi girada 4 vezes. O resultado de 14523 * 4 = 58092 aparece na terceira janela. Nessas janelas tem-se “setas” deslizantes para posicionar os pontos decimais e indicadores de milhares.

Figura 05 – Exemplo de multiplicação

Nos anos de 1973 a 1980 trabalhei na Themag Engenharia que, naquela época, era uma das 3 maiores empresas do ramo, fazendo projetos de grandes hidroelétricas como Jupiá, Ilha Solteira, Itaipu, Tucuruí, Paulo Afonso-IV , dentre outros projetos.

Em 1972 foi lançada a HP-35, primeira calculadora científica do mundo, ocasionando a obsolescência das réguas de cálculo, que reinaram durante 3 séculos e meio!

Figura 06 – Calculadora HP-35

Figura 06 – HP-35 “versus” régua de cálculo de 25 cm

Depois do lançamento pioneiro, em 1974 foi lançada a HP-65, primeira calculadora de bolso programável do mundo. Entre 1975 e 1978 foram bastante vendidas as calculadoras HP-25 e HP-25C, também programáveis, mas com custos inferiores a HP-65.

Inicialmente adquiri uma HP-35. Essa máquina foi útil um certo tempo pois novos lançamentos aumentavam as capacidades e a possibilidades de programação.

Nessa época as concorrentes da HP também estavam se movimentando. A Texas Instruments lançou a TI-58 e posteriormente a TI-59, esta última podendo ser acoplada a uma impressora que utilizava papel térmico.

Figura 09 – TI-59 acoplada na impressora PC100

Figura 10 – TI-59 com cartão (a inserir)

Entre 1978 e 1980, um pouco antes de me tornar consultor autônomo, comprei uma TI-59 e uma impressora PC100. A TI-59 foi a primeira calculadora programável que realizava trabalhos mais complicados. Fantásticos 960 passos de programa, 100 registros de dados, uma variedade de funções integradas. Era uma máquina dos sonhos, uma prévia dos computadores pessoais que viriam mais tarde. A TI-59 tinha cartões magnéticos para salvar programas e dados, uma variedade de módulos ROM de estado sólido, contendo até 5000 etapas de programa de software (principalmente de engenharia) e poderia ser acoplada numa impressora PC100C.

Era o início da programação amadora, “a nova maneira de fazer as coisas”, que anteriormente eram muito complicadas.

Neste ponto encerro o que tinha a relatar sobre “calculadoras eletrônicas” mas em futura postagem pretendo relatar minha experiência com computadores de firmas e pessoais.

Um comentário em “34 – Calculadoras eletrônicas, uma revolução

  1. Acho que Já estou bem velho. Quando comecei a trabalhar em 1964 cheguei a utilizar a calculadora de mesa Facit (lembro da campainha “plim” para mudar de operação) e quando me aposentei em 2000 usava a calculadora financeira HP 12C. Nem quero contar o tempo!

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