56 – Fotografias analógicas e digitais

Arte fotográfica

A arte fotográfica pode ser dividida em 2 fases: antes e depois das câmeras digitais.

Faço questão de chamar de “arte” o evento de registrar um momento para ser gravado e mostrado para diversas pessoas e épocas. Esse momento gravado tem que ter um significado pois, caso contrário, não diz nada.

A tecnologia veio, e continuará vindo para simplificar as coisas, mas no caso das fotografias veio também para banalizar aquilo que deveria ser importante, que deveria ficar documentado.

Antigamente a dificuldade para uma foto era tanta que as pessoas de uma família se reuniam com a finalidade específica de marcar aquele momento. As pessoas, por mais simples que fossem, usavam sua melhor roupa para serem lembradas no futuro. Era um acontecimento.

Atualmente, com as máquinas digitais e celulares, as fotos são geradas sem nenhum cuidado, numa sequência sem lógica nenhuma. As pessoas, na maioria das vezes, nem sabem o que estão fazendo. Chegam a disparar fotos seguidas, repetidas, para depois guardarem em um dispositivo, que amanhã poderá ser substituído por outro mais moderno. Nessa transição são tantas as fotos guardadas que não sabem quais deverão ser preservadas e quais deverão ser excluídas. Como a capacidade de memória dos novos meios de armazenagem aumenta cada vez mais, as pessoas acabam “salvando tudo” para depois (o melhor seria dizer nunca mais) examinar e escolher. Imprimir as fotos, então,  nem se fala. Dessa forma são geradas milhares de fotos que nunca serão apreciadas. É o chamado “lixo eletrônico”. É a banalização.

Nesta postagem pretendo mostrar como era difícil, custoso e demorado gerar uma fotografia.

Fotos antigas

Anos atrás precisávamos saber o que pretendíamos fotografar. O filme a ser comprado deveria ter uma qualidade adequada para o que se pretendia fazer com as fotos. Era uma foto normal ou especial? Seria ampliada muitas vezes? O ambiente seria natural ou fechado? De dia ou de noite? Usaria iluminação artificial ou flash? Pessoas ou objetos parados, lentos ou com muito movimento? Fotografias coloridas ou em branco e preto? Qual o tipo da câmera? Quantas fotos por filme: 12, 24 ou 36?

Comprado o filme, colocado na câmera com cuidado para não ser exposto à claridade e ser perdido, as fotos poderiam ser disparadas. Disparadas? Não! O número de fotos era limitado por filme e todo cuidado deveria ser tomado para que a regulagem da câmera estivesse correta para a hora, ambiente e motivo da foto. Se houvesse algum erro não saberíamos, pois teríamos que aguardar a “revelação” do filme, numa loja especializada em fotos. Revelação porque era um “mistério” o que teríamos: poderia ser uma foto ótima como poderia ter vários defeitos ou, o que é pior, ter falhado o processo da revelação e tudo estaria perdido. Cumpre lembrar que o processo de revelação gerava uma imagem em “negativo”, isto é, o que era branco aparecia preto e o que era preto aparecia branco. Nesse momento o profissional que revelava o filme gerava uma “tira” em papel fotográfico, com as fotos nas cores naturais, mas num tamanho muito pequeno, do tamanho do filme original. Essa tira tinha os números das fotos e o interessado escolhia quais as que queria ampliar e em que tamanho. Se tivesse confiança no seu trabalho encomendaria a revelação e a ampliação num único ato. O processo voltava ao revelador e eram finalmente produzidas as fotos. Cumpre notar que alguns filmes eram tão especiais que eram revelados no exterior (Panamá), e não haviam vôos regulares de avião como existem hoje.

Em resumo: fotografar antigamente era complicado, caro, demorado e não sabíamos se ia dar certo.

Figura 01 – Filme fotográfico de 35mm a preto-e-branco por revelar.

Figura 02 – Filme colorido – revelado – negativo – difícil de ver!

Figura 03 – Filme preto-branco revelado e ĺ tira (escolher ampliações)

Figura 04 –  Minha família  em 1939 (Rocha) : mãe, irmã (colo), pai, avós, tios e tia

Filmes

Filme fotográfico ou película fotográfica (por vezes abreviado por filme ou película) utilizado em fotografia é constituído por uma base plástica, geralmente triacetato de celulose, flexível e transparente, sobre a qual é depositada uma emulsão fotográfica. Esta é formada por uma fina camada de gelatina que contém cristais de sais de prata sensíveis à luz que chega a ela através da lente da câmera.

Os sais de prata podem ser mais ou menos sensíveis à luz. Então, há filmes que exigem maior quantidade de luz para registrar as imagens e outros permitem a captação com menos luz. A essa propriedade dá-se o nome de sensibilidade.

A sensibilidade dos filmes é indicada normalmente por números ISO do International Organization for Standardization, que é uma fusão dos sistemas ASA (American Standards Association, americano) e DIN (Deutsches Institut für Normung, alemão). Como exemplo, um filme ISO 100/21 é um filme com ASA 100 e DIN 21.

O sistema ISO de classificação da sensibilidade do filme é aritmético: por exemplo, um filme de ISO 400 é duas vezes mais “rápido” do que um de ISO 200, exigindo metade da exposição. Por outro lado, tem metade da velocidade de um filme de ISO 800, necessitando do dobro da exposição deste. No entanto, quanto maior o número ISO, maior a sensibilidade, e maiores são os grãos dos brometos de prata, resultando numa imagem com pouca resolução.

A sensibilidade dos filmes mais comuns são: ISO 32, 50, 64, 100, 125, 160, 200, 400, 800, 1600 e 3200.

Filmes de baixa sensibilidade: ISO 32 a ISO 64 são ideais para o trabalho com muita luz dias ensolarados, sol forte e flashes de alta potência. São indicados para fotografar retratos, paisagens e temas ligados à natureza.

Filmes de média sensibilidade: ISO 100 a 400 são os mais populares para os objetivos gerais indicados para dias ensolarados (ISO 100) ou nublados (ISO 200) e flashes de baixa potência (embutido na câmera).

Filmes de alta sensibilidade: ISO 800 a ISO 3200 são ideais para trabalhos com pouca luz, como ambientes externos a noite, museus, teatros e casas de espetáculos em geral sem necessidade de uso de flash ou quando se necessita de alta velocidade para “congelar” o movimento (fotos de ação).

Os filmes de ISO acima de 800 geralmente destinam-se a serviços profissionais, pois permitem alterações desses índices em condições extremas.

Cores

Figura 05 – Opções de filmes (cores)

Os filmes em cores negativos são destinados a elaboração de ampliações coloridas em papel. Os diapositivos (cromos ou slides) são filmes positivos coloridos para transparências (projeções) e serviços gráficos. Há poucos filmes que podem gerar um positivo preto e branco. Os filmes a preto-e-branco negativos produzem películas negativas para cópias fotográficas monocromáticas.

Formatos

Figura 06 – Opções de filmes (formatos)

São variados os formatos de filme existentes no mercado. Cada formato tem a sua aplicação específica sendo necessária uma câmera apropriada para cada formato de filme.

Atualmente, no meio fotográfico, designa-se por “pequeno formato” todos os tamanhos de filmes inferiores ao de 120, como “médio formato” os tamanhos de 120 e 127 e como “grande formato” todos os tamanhos iguais ou superiores a 4×5 polegadas, estes, normalmente dispostos em chapas.

Pequeno formato (16 mm), usado quase em exclusivo nas câmeras Minox, câmeras de pequenas dimensões, conhecidas como câmeras de espião.

Formato médio (110 e 126) para as câmaras simples de uso amador. Os tamanhos 110 (retangular) e 126 (quadrado) são fáceis de colocar e retirar. Teve sua época áurea nos anos 70, sendo responsável pela popularização da fotografia mas hoje encontra-se em decadência, decorrente da fragilidade das suas câmeras e pelos resultados inferiores que apresentam, não permitindo grandes ampliações.

Formato 135, mais conhecido como 35 mm é o formato mais usado por profissionais e amadores, no qual o filme vem enrolado dentro de uma bobina metálica ou plástica que o protege da luz. O filme tem o nome de 35mm pois esta é a medida de largura do filme.

Formato 120 e 220 em que o filme é enrolado num único pino de plástico juntamente com um papel de proteção a todo o seu comprimento. Destina-se a fazer fotogramas de 60x45mm, 60x60mm, 60x70mm e 60x90mm normalmente podendo variar consoante o modelo de câmera usado.

 O filme de 120 permite fazer 12 fotogramas de 60x60mm, o formato de 220 tem o dobro de filme, permitindo ao fotógrafo fazer 24 exposições de 60x60mm. É mais utilizado por profissionais. Costuma ser utilizado nas fotos em estúdio, propaganda e eventos sociais. O número de poses é determinado pela câmera, sendo mais comuns os formatos 6×6 (12 poses) e 4,5×6 (15 poses).

Formato 124 e 127 que foram abandonados por não se terem tornado norma padrão, os quais eram semelhantes aos formatos 120 e 220, variando apenas a sua altura (o 124 com 43mm de altura e o 127 com 73mm de altura e com perfuração apenas num dos lados da película).

O grande formato, normalmente usados em estúdios, existindo em diversos tamanhos (4×5 pol, 8×10 pol, 11×24 pol) tem a sua aplicação em trabalhos onde é necessária a máxima qualidade, ou em que não é possível proceder-se a ampliação do negativo, por esta propiciar a diminuição da qualidade final da fotografia. Produzem fotografias de alta resolução e extremamente precisas. Normalmente demandam cuidados especiais na conservação e manuseio, sendo utilizados por profissionais de áreas como a arquitetura e publicitária.

Fabricantes

Entre os fabricantes mundiais de filmes, encontram-se a Agfa-Gevaert, Fujifilm, Ilford, Imation, Kodak (principal) e Polaroid (fotos instantaneas).

Regulagem da câmera

No item anterior (Filmes) analisamos a escolha do filme adequado para as fotografias previstas. Colocado na câmera resta agora regulagem para que a foto saia de acordo com o planejado. Para uma boa foto devemos controlar 2 itens:

1) Exposição da luz, para determinar:

a) Abertura da lente (diafragma)

b) Velocidade do obturador

2) Distâncias dos objetos da foto

A exposição da luz é medida por um fotômetro externo ou acoplado à câmera. Este aparelho fornece, para a condição de luminosidade do momento, vários pares para controlar a abertura da lente (diafragma) e velocidade do obturador.

Abertura da lente

Figura 07 – Aberturas de lentes – Diafragmas

A abertura da lente ou diafragma tem um aspecto curioso: quanto maior o número menor a abertura para a passagem da luz. A grandeza dessas aberturas é indicada por um número precedido de “f/”. Exemplo: f/5.6

A sequência dos números é comum à maioria das câmeras:

f/1 – f/1.4 – f/2 – f/2.8 – f/4 – f/5.6 – f/8 – f/11 – f/16 – f/22 …etc

Trata-se de uma sequência geométrica de razão 1,4 aproximadamente.

Velocidade do obturador

A velocidade do obturador controla a rapidez com que a lente é exposta à luminosidade. Os valores indicados são frações de segundo, assim 125 quer indicar 1/125 segundos de tempo de abertura.

As velocidades normalmente disponíveis são:

B -1 – 2 – 4 – 8 – 15 – 30 – 60 – 125 – 250 – 500 – 1000 – 2000

Trata-se de uma sequência geométrica de razão 2,0 aproximadamente.

Nota: “B” representa exposição maior que 1 segundo, isto é, a lente permanece aberta enquanto for acionada, normalmente por um cabo disparador.

Leitura do fotômetro

Para escolher a abertura (diafragma) e a velocidade do obturador utilizamos um fotômetro externo ou interno na própria câmera.

Figura 08 – Fotômetro Weston Master II

Na ausência de um fotômetro eram disponibilizadas nas lojas de artigos fotográficos cartelas com discos e com várias opções para a escolha do diafragma e da velocidade, para o filme e situação do local da foto. A “Kodaguia” abaixo era para fotos com flash.

Figura 09 – Kodaguia para fotos com flash

Em câmeras com fotômetro interno a solução era mais simples. Diretamente no visor apareciam indicações de diafragmas e velocidades para a foto em foco. Neste caso a indicação é abertura f/5.6 e velocidade 1/250 segundo. Outros pares podem ser obtidos ao variarmos o valor do diafragma e, conjuntamente para manter o equilíbrio, o valor da velocidade.

Figura 10 – Visor de câmera com fotômetro interno

Se diminuirmos a velocidade para 1/125 temos que diminuir o diafragma para f/8, isto é, como a lente vai ficar aberta mais tempo (velocidade diminuiu) o diafragma tem que fechar para não entrar o dobro de luminosidade.

Desta forma “f/5.6  e  1/250”  produzirá a mesma luminosidade que “f/8  e  1/125“.

Para escolher o par adequado pode-se usar vários critérios:

  • Velocidade maior (1/250) tem chance menor de “tremer” a câmera na hora de bater a foto;
  • Outro critério, que abordaremos no próximo item, um pouco mais complexo é analisarmos a profundidade de campo oferecida pelos diversos diafragmas.

Profundidade de campo

A profundidade de campo é o intervalo de distância que um diafragma, de uma determinada lente, oferece nitidez na imagem.

Uma abertura total da lente garante nitidez somente na distância regulada pelo operador. Se o objeto está a 5 metros somente as proximidades do objeto ficará nítida.

Ao diminuirmos a abertura da lente ( valores “f/” maiores) há um aumento do campo de nitidez da foto.

Seja uma lente de 50 mm f/1.4 e um objeto focado a 5 m. Temos na figura abaixo:

  • Com “f/4” nitidez somente nas proximidades do  objeto focalizado (linhas verdes);
  • Com “f/8” o campo de nitidez é maior (linhas vermelhas);
  • Com “f/16” temos nitidez desde 2,7 m até o infinito (linhas azuis).

Figura 11 – Profundidade de campo

Não é só a abertura que influi na profundidade de campo. Abaixo temos as influências por abertura (repetindo), distância do assunto principal e a distância focal da lente.

Figura 12 – Profundidade de campo

Para editar este post em “Word” baixe o arquivo indicado…

Deixe um comentário